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Uma reflexão sobre o amor contemporâneo

Desde os tempos de Platão, no apogeu da filosofia grega, discute-se o amor como parte constituinte do próprio ser. Questionamentos sobre o que é o amor, como se define o objeto amado e o que constitui tal sentimento, fizeram parte de ensaios e escrituras de grandes poetas e filósofos ao longo da história.

 

Ao longo da história, a sociedade e os papéis sociais foram se transformando e distanciando do viés celestial e intelectual do amor versado pelos gregos na Antiguidade Clássica. O próprio Platão (2002) assinalava que o amor não era simples e nem era, por essência, bom ou mal, tornando-se um ou outro de acordo com a forma com que era vivenciado. Este sentimento, na obra O Banquete, é tido como a própria busca por completude da significação do indivíduo enquanto ser. Entretanto, essa busca não necessariamente é apontada como algo que está no outro e pode consistir apenas na própria compreensão do sujeito e no desenvolvimento de sua sabedoria.

 

Adentrando a uma perspectiva contemporânea, o amor continua a ser discutido e versado por diversos poetas e teóricos. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman tece duras críticas à atual forma de amar, que descreve como um sentimento que expressa uma liquidez dos laços sociais. Em seus escritos, o autor pontua fragilidades nas relações contemporâneas, marcadas por características que lembram as relações de consumo, como o hedonismo e a busca por interesses corriqueiros, o que impacta sobre as relações de oferta e demanda, gerando um ciclo contínuo de busca por novos parceiros.

 

Ademais, Bauman (2004) reacende uma vertente que critica os novos padrões de relacionamento, por entender que causam uma modificação na estrutura do amor, no comportamento de busca por parceiros, e fazem uma ruptura com valores sociais tidos como tradicionais. O teórico entende que a afetividade atua, hoje, como em uma relação de consumo onde busca-se favorecer “o produto para uso imediato, o prazer passageiro, a satisfação instantânea, resultados que não exijam esforços prolongados, receitas testadas, garantias de seguro total e devolução do dinheiro”.

 

Outro autor, Lipovetsky (2007), entende que embora haja transformações na construção de relacionamentos por influência do capitalismo e do consumismo, trata-se de algo que se manifesta de forma natural pelo sujeito, em “em vista do bem-estar, da funcionalidade, do prazer para si mesmo”. Tais fatores, então, permitem maior flexibilidade que, por sua vez, pode indicar uma elevação das expectativas ao passo em que também aumentam a possibilidade de troca de parceiros em caso de insatisfação.

 

Por fim, entendo que vivenciar o amor faça parte de um universo muito particular. Qual é sua visão sobre ele? De que maneira você percebe o amor na atualidade? Como vivencia as suas relações afetivas? Você possui uma visão crítica como a de Bauman ou acredita que o amor continua sendo o mesmo, independente das condições e das mudanças sociais? Gosta ou não gosta da maior flexibilidade nas relações afetivas? Assim, permeados por reflexões, fico por aqui. Até o próximo texto!

 

 

Por: Thiago Linhares

Psicólogo CRP 22/1834

Especialista em Neuropsicologia

 

 

Referências

 

Bauman, Z. (2004). Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.

Lipovetsky, G. O império do efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas. São Paulo: Companhia das Letras.

Platão. (2002). O banquete. São Paulo: Martin Claret.

 

 

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